por Marco Antonio H. de Menezes
Esta é uma breve tentativa de
ver algo.
É provável que as próximas
linhas não tragam novidades, mas fica a descrição de coisas que tenho observado.
Quando vi Plutão, Urano e
Netuno ocupando as posições em que se encontram hoje, eu fiquei pensando sobre
o que viria por aí.
Plutão em Capricórnio, Urano em
Áries e Netuno em Peixes, são o objeto da minha visão.
Quando Urano começou a viajar
pelos domínios arianos, o nível de individualidade cresceu muito e foi fácil
perceber o crescimento das manifestações pelo mundo. Aqui no Brasil, o que mais
chamou a minha atenção foi o fato de que muitas destas manifestações caracterizavam-se
pela ausência de bandeiras partidárias. As pessoas, independente dos motivos
que norteavam tais atitudes, não queriam ser representadas por partidos, queriam
reivindicar, queriam ser ouvidas, queriam ter mais voz ativa. Os movimentos
trariam a imagem dos Black Blocs que, basicamente, seguiam os passos
anarquistas. Movimentos reivindicatórios tomaram conta de várias partes do
planeta, incluindo os “occupy”. Havia e ainda há a necessidade de reclamar, de
vociferar contra as regras vigentes e seus representantes. Não foram e não
estão sendo pacíficas tais manifestações, porque é um confronto de ideias, de valores,
de intenções. A tampa da panela não está suportando a pressão interna e precisa
de alívios. Urano traz a revolução para os territórios do indômito Áries.
Os arianos não são muito
conhecidos por serem pessoas acomodadas. Normalmente preferem as saídas mais
práticas e menos buriladas, pois o importante é: a ação, a reação, o impulso, o
desejo sendo satisfeito na hora (depois já era!), o grito imediato diante da
dor, o prazer de estar na luta, o enfrentamento sem rodeios, a ausência de
medos, a vontade de abrir logo a porta (nem que seja aos pontapés!), a meta
buscada sendo atingida, a necessidade de ser o primeiro, a iniciativa, a
vitória, a individualidade, o egoísmo, a raiva, a agressividade sem
contenção...
Agora imagine o revolucionário
Urano nadando nesta sopa ariana. Tudo tem que ser feito agora, tudo tem que ser
resolvido agora, nada de postergar, nada de pensar, nada de gastar um tempo
para pensar no futuro. Como um trator extremamente veloz e descontrolado, Urano
vai derrubando os obstáculos, destruindo obstruções, desqualificando posturas,
desrespeitando hierarquias, desprezando leis e regras. O cenário que Urano em
Áries deixa, após a sua passagem, é a de um terreno destruído, mas ao mesmo
tempo pronto para ser reestruturado. Repentinamente, as pessoas se dão conta de
paisagens que antes viviam escondidas pelas muitas desculpas, pelos muitos
temores, pelas masturbações mentais, pelas manipulações. Tudo pode parecer mais
claro, mais direto. Ao olhar a devastação passamos a nos dar conta de que
podemos ousar, de que podemos testar, de que podemos ir além daquilo que
estávamos acostumados. Percebemos que aquilo que nos amedrontava era frágil
demais, mas foi preciso que alguns ousados e destemidos enfrentassem e abrissem
mão de suas liberdades, de suas comodidades, de suas vidas comuns e até
morressem, para que nossas visões começassem a enxergar a realidade.
Urano em Áries é um chamado
para que olhemos para o nosso interior, para a nossa vida e comecemos a nos dar
conta se o que temos em nossas mãos tem sido realmente válido para nós. Urano
em Áries incita-nos a sermos mais honestos com o que queremos para nós, mas não
cessa por aí! Esta posição de Urano obriga-nos a sermos mais individualistas, pois
em algum momento precisamos perceber se estamos valorizando nossa própria
capacidade de pensarmos por nós mesmos ou estamos delegando para outros a nossa
vida. Para que nos sintamos conectados com o mundo será necessário que
aprendamos a nos conectar com o nosso mundo interior, com as nossas qualidades,
com as nossas necessidades, com as nossas habilidades, com os nossos medos, com
a nossa própria imperfeição, com a nossa agressividade, com as nossas raivas,
com a nossa limitação, por exemplo. Nós podemos fazer isso de uma maneira
individual ou estando na presença de outras pessoas que estejam passando por
situações similares. Podemos sair do emprego porque não suportamos mais a
maneira como ele é desenvolvido ou podemos nos unir a outros para contestar a
forma que um governo está conduzindo sua política, mas tudo isto ocorre porque
há uma insatisfação interior que nos compele a tomar uma atitude radical, uma
atitude que desestruture os padrões que estavam dominando a nossa vida.
Urano em Áries pode fazer com
que procuremos um mito, alguém ou qualquer coisa que represente ou o que
queremos ver mudado ou o que queremos que se torne a nova referência para a
nossa vida. É importante salientar que não há nada de positivo ou negativo, pois
o que está em jogo é apenas a mudança e não a qualidade da mesma. Como estamos
falando de um planeta que influencia gerações, podemos dizer que emergirá um
padrão representativo desta mudança, ou seja, aquilo que for experimentado num
nível individual aglutinará/atrairá outros que estejam vibrando na mesma
frequência e isto se tornará o padrão de uma comunidade (um grupo de amigos, a
população de uma cidade, a população de um estado ou mesmo de um país, um grupo
espiritual, etc.). O que será experimentado será a capacidade de aprender a
reconhecer os próprios padrões (e sem máscaras!) e usá-los como referência para
a vida que desejamos dali por diante. Esta experiência será feita de maneira,
em geral, conturbada, acelerada, perturbadora, desproporcionada e acéfala, para
dizer o mínimo. Dificilmente alguém passará por esta fase sem ser sacudido e, com
certeza, a pessoa descobrirá quão corajosa ela é para assumir aquilo que está
descobrindo sobre si mesma. Como a passagem de Urano por Áries acontece em
casas diferentes e sob aspectos diferentes, será preciso que cada um analise o
seu próprio mapa natal para que saiba por onde esta força revolucionária fará
com que se tenha um contato maior com aquilo que precisa ser descartado e
desmascarado, ou ainda, com aquilo que precisa emergir e que podemos até
apelidar de verdadeira essência.
Por outro lado, temos Plutão em
Capricórnio. A montanha capricorniana será muito remexida por terremotos!
Plutão age de dentro para fora,
da escuridão para a luz, portanto ele pode muito bem ser silencioso durante um
tempo, observando tudo até começar a identificar por onde deverá começar o seu
trabalho. Em Capricórnio, ele é mais minucioso, mais silencioso e mais
elaborado. Plutão em Capricórnio começa por mover pequenas pedras com pequenos
e quase imperceptíveis abalos. Mas como o movimento não cessa até ser alcançado
o objetivo, os abalos não são interrompidos, eles apenas vão crescendo em intensidade.
Capricórnio é o signo marcado
pelas instituições, pela solidez, pela astúcia, pela lentidão, pelo humor (que
por vezes pode ser negro!). Capricórnio também fala das crenças consolidadas,
dos padrões bem formatados, das conquistas obtidas após muito esforço
individual, das dificuldades para dividir com o outro as próprias experiências,
da persistência, da facilidade para seguir (quase sem reclamar!) até o final a
rota traçada, da obstinação, da valorização de cada etapa da caminhada, do
apego material, por exemplo.
A chegada de Plutão às montanhas
capricornianas fez com que as cabras repensassem suas rotas, pois pela primeira
vez suas pernas tremeram e, pela primeira vez, elas perderam a certeza de que
poderiam seguir adiante e chegar até o cume. Plutão desfaz os mitos, quebra as
certezas, mostra as facetas mais obscuras de todos os padrões, joga um jogo
perverso, onde a pessoa precisa ser sincera e terá que abandonar suas aparentes
inocências. O sistema financeiro, o sistema de crenças, o sistema político e
todos os sistemas que Capricórnio conhece tão bem, são abalados definitivamente
dos pés até a cabeça.
As religiões estão sendo obrigadas
a repensar suas atitudes diante de escândalos que envolvem pedofilia,
intolerância religiosa, interferências na vida pessoal e na vida política, por
exemplo. Os dogmas centrais estão sendo contestados até mesmo dentro das
próprias religiões. Os sistemas financeiros estão sendo abalados por fortes
ventos desfavoráveis, que vão desgastando o valor da moeda como único padrão aceitável
para se viver. Os padrões políticos estão sendo remexidos. As grandes instituições
que se consideravam intocáveis estão sendo obrigadas a descerem de seus
pedestais, graças a escândalos que envolvem corrupção. Mas o detalhe importante
de tudo isso é que nada começou agora. O que vemos agora é o abalo que vai
ficar cada vez mais forte e cada vez mais fácil de ser sentido até que a
montanha desabe após sucessivas avalanches. Muitos buscarão o abrigo em locais
conhecidos, mas descobrirão que aqueles lugares não são tão seguros assim, pois
as pessoas que os guardam mostrarão suas facetas mais gananciosas. Os que forem
capazes de entender o que está acontecendo, rapidamente pulam fora das
montanhas gelatinosas. Os que insistirem em ficar até o fim terão sorte se
sobreviverem ao caos que virá. Mas, tudo isto começou antes, porém só agora há
condições para ocorrer a destruição de todos os sistemas, estruturas e crenças
que antes dominavam a vida. As pessoas terão que rever seus valores, seus
sistemas de crença, suas estruturas internas. Haverá uma saturação cada vez
maior de informações sobre tudo o que antes as pessoas não queriam ver. Seus
preconceitos, seus apegos, suas astúcias e todos os seus vícios serão
esfregados todos os dias diante de todos, até que eles sejam definitivamente
desgastados. As pessoas terão que se despir de suas armaduras e terão que ficar
totalmente nuas, totalmente vulneráveis, para que entendam que nada e nem ninguém
está acima de qualquer um. Junto com Urano em Áries, há a necessidade de
reformar o interior de cada indivíduo. Assim como Urano em Áries, as pessoas
deverão ser muito corajosas, pois não é fácil perceber que seus sistemas de
vida estão por um fio, que tudo aquilo no qual confiaram era pura ilusão e que
estavam vendendo suas vidas por uma ninharia. Mais uma vez é preciso alertar
que não há o positivo e o negativo, apenas o despertar, a destruição de camadas
vencidas e fendidas. O que surgirá após o rapto da nossa inocência varia desde
a loucura absoluta até os desmandos desmedidos (o que sinaliza o apego total
aos padrões que já foram claramente desmascarados!) ou desde a instituição de
novos padrões até a transformação de nossas ambições. Novas lideranças, com
ideais mais estruturados podem surgir durante esta fase. O pessimismo poderá
fazer par com a cautela, obrigando as pessoas a serem mais disciplinadas na maneira
como conduzem as suas vidas, mas o ponto oposto apontará para comportamentos violentos,
indisciplinados, descontrolados, onde as pessoas chutam os baldes, perdem a
noção do ridículo, jogam na lama suas reputações, porque percebem que tudo o
que as mantinha dentro de uma linha de comportamento está sendo bombardeado,
mostrando toda a sua impotência. Com a destruição das montanhas, ficam
aparentes os mares de lama e os seus habitantes. Dificilmente alguém enlameado
conseguirá se esconder da opinião pública.
E para terminar toda esta
transformação, vem a dissolução. Netuno está em casa quando entra em Peixes.
Netuno em Peixes veio para dissolver tudo, mas não sem antes fazer as pessoas
sonharem. Durante um tempo Netuno espalha seu charme e conquista a todos com
suas paisagens etéreas. As pessoas podem ouvir melodias maravilhosas e podem
ser seduzidas pelo canto das sereias. Mas, um dia alguém acorda...
Peixes é um signo que traz: a
intuição, a imaginação, a ausência total de limites, o prazer de viver sem
fronteiras, o idealismo, mas, também, traz a melancolia, a depressão, o mais
fundo dos poços, a dificuldade para encarar a realidade, o desconforto para se adaptar
às regras e às críticas sociais. Peixes ama sentir, os seus sentidos são
apurados.
Netuno reforça todas as
características boas e más de Peixes, mas também revela um momento em que o
carma coletivo fala mais alto. Netuno em Peixes marca o que precisamos resolver
hoje em nossas vidas. Começamos a perceber que tudo aquilo que vimos com Urano
em Áries e com Plutão em Capricórnio vai ajudar-nos a dissolver um carma
coletivo. Nós somos obrigados a perceber o que temos considerado sagrado em
nossas vidas, como temos conduzido a nossa espiritualidade. Que rumos temos
dado a todo o nosso conhecimento espiritual. Temos abusado de nossos poderes e
temos escravizado a todos com nosso discurso de desapego espiritual, onde
somente a tecnologia e a vida material parecem ter valor, assim como tudo o que
está ligado a eles. Desfrutamos de conforto graças à destruição de outras vidas
(animais, vegetais e até minerais) e à destruição e desvio dos sonhos das
pessoas, graças à falsa espiritualidade que sempre valorizou esta ou aquela
instituição e não o espírito humano. O nosso materialismo fez-nos afastarmos de
nossos verdadeiros valores, fez-nos mais preconceituosos e insensíveis. Nós
criamos castas e isto nos faz mais ambiciosos, mais orgulhosos, mais mesquinhos
e mais competitivos, mas aos poucos vamos descobrindo que perseguimos belas
bolhas de sabão, descobrimos que vivemos num mundo cheio de limitações,
descobrimos que nossas ambições só causam destruição e que nem nós mesmos
estamos isentos da destruição que nós apoiamos. Netuno em Peixes pode ser tanto
o mar de lama que as águas interiores de Plutão usam para destruir a montanha
capricorniana como pode ser a água que lava a nossa alma das insanidades
aprendidas ao longo de tanto tempo. O fato é que Netuno em Peixes está
dissolvendo tudo o que nós conquistamos e tudo o que é regido pelo ego, além de
todas as nossas ilusões. Mas podemos ficar mais felizes, porque Netuno em
Peixes permite-nos recomeçar, com a alma mais leve, valorizando os nossos dons
genuínos, a nossa imaginação, a nossa crença em uma vida que nos leve para além
da destruição que um dia imaginamos e tornamos tão real. Netuno em Peixes é um
bálsamo, mas também é um convite para que nos preparemos para dias não tão
fáceis. Afinal, estamos no limiar de uma nova fase para a humanidade e estamos
longe de ter nas mãos as respostas para o que virá. Teremos que aprender a
abrir mão de algo menor, mas que até aqui sustentava nossos movimentos e
motivações, em favor de algo maior, que talvez nos ajude a reconstruir o que
será dissolvido. Teremos que aprender a confiar em nossas intuições, em nossa
espiritualidade, em nossos valores individuais após tanto tempo fazendo justo o
oposto. Teremos que descobrir que tudo o que queremos já está disponível para
nós, já está organizado, que sabemos por onde andar, mas é preciso que escutemos
mais a nós mesmos e que paremos de criar entidades messiânicas. Isto tudo pode
ocorrer tanto no nível pessoal quanto no coletivo. Não é uma tarefa fácil e nem
há certezas de que conseguiremos concretizá-la. Novamente torna-se importante
frisar que não há um positivo ou um negativo, há apenas a dissolução e a
consequente resposta a ela. Podemos criar um mundo mais elevado ou podemos
criar um mundo onde percebemos que não sabemos mais viver sem que alguém nos
tutele, sem que alguém nos engane, sem que as pessoas manipulem os nossos dons
em favor delas.
Não sei se ajudei você a se
entender um pouco mais sobre a influência atual destes três planetas, mas não
deixe de olhar as posições onde eles estão transitando em seus mapas natais
para perceberem como eles estão trabalhando tudo o que relatei acima.
Obrigado pela sua atenção e até
a próxima (e eu nunca sei quando será a próxima!).
(John Melhuish Strudwick - A Golden Thread
exhibited 1885)
