Carta cigana
para o ano de 2018 no mundo.
"A
criança"
Depois do ano de 2017 ter sido O Caixão, entramos num ano onde
precisamos começar a catar os cacos e abandonar definitivamente o cenário
anterior.
O ano de 2018 não é para negligenciarmos o que ocorreu
anteriormente. Pelo contrário, devemos fazer uma forte avaliação do nosso
desempenho no ano anterior, para sabermos o que faremos em 2018. Este é um ano
para avaliarmos se soubemos lidar com as dificuldades apresentadas
anteriormente e se pudemos tirar proveito das lições apresentadas. É um ano,
também, para avaliarmos nossos fracassos, nossas intolerâncias e nossos temores
que ainda nos acompanham.
As crianças chegam para que olhemos tudo isto e, em seguida,
saibamos mostrar que somos capazes de lidar com a vida com jogo de cintura, que
sabemos ir além de toda dificuldade, tomando a iniciativa de mudar o que não
nos satisfaz mais. É um bom ano para iniciarmos parcerias, para começarmos
novos relacionamentos, para trazermos de volta a espontaneidade, a criatividade
e a sociabilidade, além de ser um ano excelente para tomarmos iniciativas em
lugar de ficarmos assistindo a tudo como se não fosse com a gente.
Num ano como este, o mais importante é que não tenhamos medo do
futuro, mas que saibamos ter a iniciativa de construí-lo. Que sejamos,
honestamente, capazes de conquistar novos horizontes, novos espaços e novas
metas.
Nada de reclamarmos da dureza da vida! Pelo contrário! Agora é o
momento certo para vermos nela as oportunidades para que nós possamos revirar
tudo, transformar tudo e iniciar um novo
jogo, com novas maneiras de abordar as dificuldades. Como crianças, podemos
enxergar em qualquer coisa uma oportunidade para inventarmos uma nova
brincadeira, uma nova alegria, uma nova diversão, uma nova tendência e uma nova
direção. Uma criança cai e se machuca e chora, mas dois tempos depois já está
de pé e pronta para novos desafios, porque o importante é descobrir novas
coisas, novos mundos e novos jeitos de olhar a vida.
Excelente ano para desenvolvermos a intuição e para lidarmos com o
nosso lado mais instintivo. Também é um excelente ano para olharmos o mundo
como uma comunidade, onde cada um pode trazer a sua contribuição e aprender a
fazer parte do mundo como um lugar onde todos podem se ajudar.
Bom ano para levarmos a vida com mais leveza, ainda que não seja
um ano de pouco trabalho. É um ano para, como crianças, aprendermos a ter em
mente quais são as responsabilidades inerentes ao grau de consciência que temos
da vida. Podemos brincar, podemos trazer diversão, podemos motivar, podemos
estimular, podemos criar, podemos gerar novos conceitos e, em seguida, podemos
desapegar-nos de tudo o que foi obtido para que comecemos tudo num novo
patamar. Esqueçamos o apego! Apenas aprendamos a nos doarmos para o momento e
assumirmos as iniciativas que o momento exige! Gastemos menos energia com
brigas, com discussões inócuas, com picuinhas que dissipam a atenção para o que
é essencial.
O mundo anda precisando de mais iniciativas, de mais pessoas
atentas ao momento e de mais pessoas que saibam criar novas perspectivas.
Tudo o que estão oferecendo a este mundo atual são apenas maneiras
de distrair as pessoas, tirando delas o poder de se recriarem, de se
manifestarem, de tomarem para as suas mãos o controle da vida.
Redescubramos o prazer de nada saber, de tudo ignorar, mas de tudo
entender, mas de tudo perceber e de agir ao perceber.
Vivemos num mundo que vai
coibindo a nossa capacidade de agir, de tomar iniciativas, de transferir para
uns poucos as nossas responsabilidades. Precisamos voltar a sentir o prazer de
redescobrir como se vive, como podemos expressar o nosso próprio jeito alegre,
como podemos reagir sem que sejamos orientados e conduzidos por forças que só
desejam extrair a nossa energia em benefício próprio e nunca pensando em benefício
da comunidade.
Bom ano para reunirmo-nos, para trocarmos ideias, para discutirmos
mais o que acontece ao redor, para encontrarmos no outro a resposta para o que
sentimos, mas sem messianismos, sem heroísmos, sem domínios, sem autoritarismos
e sem controles absolutos sobre os outros. Aprendamos a valorizar a nossa
liberdade, a nossa independência, o vento na cara de quem ama a aventura, o
coração excitado pelo amor genuíno que sentimos e os olhos brilhantes de quem
tem o prazer de viver. Desamarremo-nos de todas as covardias e todas as
iniciativas que impedem a expressão da alegria, da busca pelo bem-estar, do
prazer de beijarmos quem quisermos no momento que bem entendermos e de darmos
formas aos nossos pensamentos sem sermos julgados por quem inveja a nossa visão
aberta da vida.
Este é um ano para lutarmos pela nossa liberdade e não para castigarmos
a criança que somos.
Precisamos deixar de lado a criança birrenta, aquela parte de nós
que ama a nossa superficialidade, a nossa imaturidade, a nossa facilidade para
agirmos e julgarmos sem, antes, pensar, a nossa precipitação e a nossa vontade
de sermos apenas do contra sem avaliarmos até que ponto isto afeta a
todos.
Tal criança birrenta, que não quer crescer, que não quer aprender,
que não quer descobrir para além de seu umbigo também estará presente no ano de
2018 e precisamos tomar cuidado com ela. Suas iniciativas são baseadas apenas
no quanto ganharão com esta ou aquela atitude, não sabendo perceber que um
passo errado hoje se voltará, num futuro qualquer, contra ela mesma e contra
todos os que ela ama. As crianças birrentas não querem ouvir, só gritam, só
mandam, só acreditam na lei da força, da imposição, do controle, da prisão, da
detenção da alegria, da expressão da raiva e da monotonia. São crianças que
vociferam pelos cantos do mundo o medo, o temor, a raiva, o ódio, o
preconceito, a rejeição da liberdade em favor das restrições e das coerções.
São crianças que aprenderam que a única coisa que é boa para o mundo é a
tristeza, a lei do mais forte e a imposição de ideias e de posturas, além das
punições e castigos. Preferem a palmatória ao amor e se comprazem em ver o
horror que podem causar aos outros.
Num ano como 2018, estejamos atentos para que possamos perceber
que tipo de criança nós preferimos ser: a birrenta e emburrada ou a criativa e
alegre.
Divirtam-se, pois o ano de 2018 acaba de começar!!
Bom dia!!!!