Sobre Marco Menezes

Trabalho, basicamente, com Tarot, Reiki, Numerologia e Astrologia. Sou formado em Farmácia pela UFRJ e lido com óleos essenciais, participei de workshops de florais com os principais co-criadores. Atualmente atendo somente online: via Telegram ou Skype. Este blog é apenas uma maneira de ver o mundo que nos cerca, com todas as nuances que for possível vê-lo. Sinta-se à vontade, mas respeite o espaço! ;)

04 outubro 2017

Sobre Francisco, Teresa e João

Hoje é o dia do Chico, do Chiquim, do Francisco, do cara de Assis, do maluco que falava com os animais: dia de São Francisco de Assis.
Ele é um daqueles santos da igreja católica que sempre gostei. Talvez tenha sido influência do Zeffirelli, embora eu o tenha conhecido antes.
O fato é que ele, Santa Teresa Dávila e São João da Cruz foram seres que me cativaram. E eles não me cativaram por serem católicos.
Eles me cativaram porque eles eram exatamente o oposto daquilo que a crença católica e até mesmo cristã pregava e ainda prega.
Francisco mostrou que Deus estava em tudo.
Teresa foi uma questionadora desde o dia em que entrou, contra a vontade, para um convento.
João da Cruz sofreu muito por olhar o mundo de maneira diferente.
Teresa e João da Cruz, literalmente, levitavam e por conta disto eram perseguidos.
Francisco não comungava com o padrão vigente da fé cristã e foi perseguido.
Zeffirelli apostou nesta visão diferenciada e fez o magnífico Irmão Sol, Irmã Lua. No filme, Francisco é usado como um ser que mostra a distância entre os ritos e maneiras exageradamente elaboradas da igreja e a simplicidade de reconhecer naquilo que faz parte da vida diária a presença da divindade. Valia mais o que era feito de coração e o altar era composto por aquilo que cada um produzia, comia e usava. No lugar da visão materialista e política do uso da religião, uma visão mais espiritual, mais social (que nada mais é do que uma visão política diferenciada!) e mais pessoal da religião. A distância de Francisco e seus seguidores daqueles que se consideravam os verdadeiros mantenedores da fé cristã é muito bem descrita numa cena simples, quando termina o encontro de Francisco com o Papa. Veja o filme e tire as suas conclusões.
Mas tanto Francisco, quanto Teresa e João são seres que preferiram mostrar que a espiritualidade é algo muito maior do que aquilo que a igreja pregava e impunha. Enquanto a igreja impunha uma agenda materialista e extremamente política, onde o importante era a arrecadação (e não por acaso a Santa Inquisição, que de santa nada tinha, foi uma maneira esperta de arrecadar mais fundos para a igreja. E, ao mesmo tempo, a Igreja arrecadava fundos acompanhando os navegadores, não para abençoar as viagens, mas para obter lucros no apoio às muitas lutas contra os povos locais.).
Francisco falava com os animais, valorizava a vida simples, atraía os pobres, os camponeses, os explorados pela igreja, pela nobreza e pela burguesia reinante, pedia esmola e comida de casa em casa, rezava missas para o povo e deixava que o povo fizesse parte da missa. A vida de Francisco foi dura e oposta a tudo o que a igreja pregava. Ele não diferenciava quem chegava, contanto que ajudasse com o que podia. Ele incomodou a igreja da época por tentar ser ele mesmo e buscar o seu jeito específico de ver a espiritualidade.
Teresa ficava horrorizada com os relatos enviados por seu irmão. O irmão de Teresa fez parte dos navios que se direcionavam para o Novo Mundo e fez parte das expedições que massacravam índios com o apoio religioso. Os missionários ajudavam no saque de todo tesouro que encontravam pelo caminho. A igreja enriquecia com as navegações e alguns padres se arrependiam daquilo que faziam, mas aí já era tarde, pois a cultura e os tesouros já estavam nos cofres da igreja.
São João da Cruz era maltratado por seus pares religiosos, era amarrado como cachorro e pegava alimento que jogavam no chão. Escapou desta situação famélica graças ao apoio de um irmão religioso. João reencontrou o conforto nos braços de Teresa. Quando os dois se encontravam, eles flutuavam e as irmãs do convento escondiam tal fato porque sabiam que aqueles dois poderiam ser condenados pela Santa Inquisição. Estranho que a igreja não soubesse avaliar que aquilo era espiritualidade e não obra do demônio.
São João da Cruz ficou conhecido por usa voz, que podia ser ouvida muito longe. Cuidava dos enfermos, mas padeceu muito. Foi um místico, um poeta e um pregador que nunca se permitiu obter mais do que o sofrimento, a penúria e o escárnio dos demais. Apesar de todo o seu sofrimento, foi capaz de realizar coisas impressionantes para o seu tempo. A igreja teve dificuldade para lidar com ele, notadamente certas ordens cristãs.
Teresa era judia. Sua família era judia (os judeus eram perseguidos pela Santa Inquisição pelo simples fato de serem excelentes comerciantes) e rica, mas teve que aprender a viver de aparência para não chamar a atenção da igreja. Para escaparem da Santa Inquisição os judeus inventaram o sinal da cruz (assim pareceriam muito devotos aos olhos dos demais cristãos), tornaram-se fidalgos (ou seja, viviam de aparência) e mandavam suas filhas e alguns filhos para os conventos (pagando uma boa quantia para terem os seus filhos nos conventos), além de trocarem os seus sobrenomes. Teresa entrou para um convento (o pai a colocou lá porque ela se apaixonou por um primo!) e brigou contra todos os conceitos do convento, fazendo até saraus nada santos para a época. Depois ela descobriu que toda vez que as freiras cantavam, ela entrava em êxtase e flutuava. Nem por isto ela parou de questionar Deus. Brigava com ele o tempo todo, mas abriu diversos conventos.
Estes três seres mostraram para a Igreja da época quão vazio era tudo aquilo que ela valorizava e quão distante ela estava das pessoas e da espiritualidade. Apesar de tudo, as igrejas cristãs (claro que existem exceções) ainda não aprenderam a valorizar a espiritualidade, preferindo a materialidade, o apoio ao poder (não importando qual seja este poder) e a disseminação do controle do exercício da fé, acreditando que tudo o que está de fora dos padrões e dogmas deve ser execrado e destruído.
Teresa, João e Francisco foram perseguidos pela igreja de seu tempo porque eles possuíam poderes espirituais genuínos e os exerciam para o público (e ensinavam coisas que poderiam colocar em risco os poderes da igreja, porque as pessoas poderiam perceber que a igreja era vazia de poder espiritual genuíno) e só não foram mortos porque houve intervenção de poderosos amigos que acabaram convencendo que a igreja poderia usá-los para atrair mais fiéis, mais dinheiro, sem, no entanto, afetar a fé como era conduzida.
Será que os tempos de hoje são diferentes? Será que Francisco, Teresa e João poderiam, ainda, ser perigosos para os diversos segmentos cristãos dos dias de hoje? Será que os diversos cultos, as diversas formas de ver a espiritualidade ainda incomodam os principais líderes cristãos? Será que ainda hoje demonizam o que está fora dos portões e permissões das igrejas cristãs? Se sim... quando mudarão suas ações? Ou será necessário o nascimento de novos Franciscos, Teresas e Joãos? Parece que o mundo evoluiu, mas certos setores ainda não perceberam isto?
Talvez não seja o caso de mudar uma religião, mas de fazer com que ela perceba que o seu impacto sobre o mundo pode ser negativo quando ela tenta impor os seus dogmas a quem não a segue.
Fica a dica!