Quando eu leio numa carta de jornal uma declaração estranha como a que li, fico me perguntando como é que conseguimos chegar até aqui.
A carta em questão dizia de forma clara que o leitor não queria mais receber o jornal porque o mesmo estava estampando em suas páginas fotos e reportagens referentes aos homossexuais. A indignada pessoa dizia que este jornal poderia cair inadvertidamente nas mãos do seu filho e macular a pureza do mesmo, que era menor e que não tinha que ter contato com estas coisas...
Outro dia li uma declaração de uma pessoa dita famosa que dizia não ter nada contra seu filho ser gay, desde que ele respeitasse a todos.
Agora vamos lá, o filho daquele leitor deve viver enrustido dentro de casa e nunca vê televisão e é cego para o mundo em que vivemos. Qualquer pai, mãe ou educador há de concordar que criança tem uma percepção muito rápida do mundo que ela vai descobrindo. Imediatamente ela percebe os comportamentos diferentes das pessoas ao seu redor: pais, por exemplo. Ao perceber, ela compara e logo questiona e toma suas atitudes em virtude daquilo que recebe como resposta. Quando os pais respondem de maneira esclarecedora, sem deixar os preconceitos permearem as respostas, a criança age, em geral, de maneira muito compreensiva, mas quando os pais respondem de maneira preconceituosa, a tendência, em geral, é a ação preconceituosa por parte da criança.
Eu aposto que você, principalmente se for homem, já deve ter tido algum amigo gay na escola. As mulheres são mais abertas ao gay, talvez por sentirem mais tranquilidade para trocar idéias com um homem que, aparentemente, as entendem melhor (em alguns casos podem aceitar as lésbicas). Os homens são mais resistentes, porque a mente tende a levá-los ao pensamento de que ao andar com gays seja confundido com eles (o que pode acontecer também com algumas mulheres em relação äs lésbicas). No entanto, conheço muitos homens, ditos, heteros, que andam com gays, sabem da preferência deles, mantêm um vínculo fraterno tranquilo em sem encucações. Comerciantes, executivos, garis, políticos, médicos, etc, não importa aonde eles estejam, eles deixam de lado o preconceito e colocam em evidência a amizade.
Aí cabe uma pergunta: o pai está preservando o filho do quê? Se o filho for homossexual ou bissexual ou heterossexual? Será que a culpa é do jornal? Ou dos amigos? Ou da educação que ele deu ao filho? Não, a culpa não é de ninguém. O importante é abrir a cabeça para o mundo e dar uma educação ao filho para que el não mate, não explore, não seja corrupto, que seja honesto, que seja humano, que seja companheiro e que esteja comprometido com o bem estar de todos.
Enquanto atitudes preconceituosas travarem a abertura para a realidade, mais esta realidade provocará quem dela foge, mais os ânimos irão se acirrar, o que resultará apenas na paralisia social.
Creio que hoje em dia não se deveria estar perguntando se se deve aceitar ou não quem é homossexual e sim, como podemos integrá-lo ao mundo e entender os benefícios que eles tem trazido até os dias de hoje. Se você é daqueles que ainda enxerga o homossexual como sendo apenas o cabeleireiro da esquina ou o travesti de programa, é melhor olhar mais em volta e na história do mundo.
Homossexualidade não torna ninguém santo ou mártir, afinal são seres humanos e cometem erros e acertos como tais. Há quem diga que são depravados... mas os heterossexuais também o são e são ainda piores: matam, se assim lhes aprouver! Raramente um homossexual mata o amante, só em casos onde a violência é a tônica das pessoas envolvidas. Ambos, hetero e homo, enganam seus cônjuges e podem ter amantes aos montes. Ambos podem ser promíscuos! Por outro lado, ambos podem ser altamente amorosos e ambos podem ser altamente fiéis. Então onde está a diferença?
Amor não tem sexo! Amor é uma dádiva e não um produto que só pertence a um grupo. Não há livro sagrado que desdenha o amor e só o preconceito faz com que as pessoas usem as palavras de tais livros para justificarem seus pudores.
O certo é que esta discussão sobre aceitar ou não a homossexualidade só serve para acirrar ânimos e não para fazer as pessoas sentarem e discutirem como seres civilizados que deveriam ser (e isto serve para ambos os lados!). Quem lucra são as mídias e o mercado, que não toma partidos, mas estimula a criação de nichos.
Sobre a declaração daquela pessoa que diz não ter nada contra o filho ser gay desde que seja respeitoso, eu tenho uma pergunta. Mas antes da pergunta é preciso frisar que este tipo de resposta é muito comum.
A minha pergunta é: o que é ser respeitoso? O que é ser um (a) gay/lésbica respeitoso(a)?
Confesso que não sei a resposta. Talvez a resposta esteja em considerar se existe hetero respeitoso.
O que é um hetero (homem ou mulher) respeitoso?
Seria aquela pessoa educada o bastante para não ferir a sensibilidade alheia com beijos cinematográficos ou com amassos “derruba parede”? Se é isto... bem eu tenho uma desagradável notícia: os desrespeitosos existem e são hetero também. E tem mais, muitas vezes nem a camisinha entra no jogo e depois de alguns meses nós sabemos os resultados.
Seriam desrespeitosos os casais que trocam bitoquinhas inocentes e deitam a cabeça no ombro ou no colo amado? Ou seriam desrespeitosos os que seguram a mão da pessoa amada enquanto andam e conversam? Mais uma notícia desagradável: estes desrespeitosos também existem e também são heterossexuais...
A pergunta é: o que significa ser homossexual respeitoso?
Alô! Homossexuais também são seres humanos, portanto a eles cabe tudo o que vale para os heterossexuais, de bom e de ruim.
A impressão que eu tenho toda vez que leio/ouço este tipo de declaração, é que a pessoa está tentando agradar a gregos e troianos e é só.
Quem sabe um dia a gente vai viver num mundo onde as desigualdades serão vistas como algo que acrescenta e não que diminue. Até lá, vamos arregaçar as mangas para trabalhar pela chegada deste novo tempo. E aqui não me refiro a questões exclusivamente sexuais, mas também todas as outras questões onde as deseigualdades são pomos de discórdias e de guerras e de mortes.
Ninguém é obrigado a gostar de nada, mas ninguém pode desrespeitar o outro só por ser diferente e isto vale para todos os lados da moeda.
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