Você é um
BANCO DE DADOS
por Marco Antonio H. de Menezes
Dicionários, enciclopédias e atlas geográficos eram comuns em minha infância. Alguns objetos de cobiça eram interessantes: Delta-Larousse, Barsa, Mirador, Conhecer. Uau!!! Aquilo era um sonho. Eu tinha em casa a enciclopédia Conhecer. Adorava as ilustrações, amava ler certos assuntos e ela foi a fonte de parte das pesquisas de colégio. Os atlas geográficos mais comuns eram bem interessantes, mas quando eu tive a oportunidade de estar diante do atlas da Mirador (e, se não me engano, só pus a mão quando entrei numa biblioteca do Fundão) eu entendi porque ele era tão interessante. Existiam outras publicações às quais eu também tive acesso: Mundo das Crianças, outras enciclopédias (de história da arte, de história brasileira, de história antiga, etc), enciclopédias sobre arqueologia (uma das minhas paixões), dicionários ilustrados...
Pois é, mas parece que tudo isto, hoje em dia, transformou-se em lixo! Se alguém ainda possui tais obras, talvez só as tenha porque ou gosta de tê-las (para estudo, pesquisa e referência, por exemplo) ou porque não sabe como se livrar delas. Não estou sendo rude, estou apenas mostrando a realidade. Aqueles livros que citei acima estão, hoje em dia, em sebos ou estão sendo vendidos nas calçadas das ruas (que viraram uma espécie de livraria, com o fim ou redução das livrarias formais no Brasil) ou em sites de livrarias virtuais. É bem possível que sejam encontrados em bibliotecas públicas. Pode ser que ainda existam, nas bancas, coleções de enciclopédias, mas entendam que, com a vinda da internet, a maioria das pessoas perdeu o contato e o interesse por ter ou comprar uma coleção completa. As coleções custavam caro e, em alguns casos, eram coleções compradas nas bancas de jornal na forma de fascículos e a cada conjunto de fascículos era entregue uma capa dura que servia para encadernar e transformar os fascículos em volumes. E, às vezes, o próprio jornaleiro vendia as coleções totalmente encadernadas por um “precinho especial”.
Mas o mais importante é que tudo aquilo era informação. Naqueles livros constavam todas as informações que foram acumuladas, neles constavam fatos, fotos, descobertas, documentos, discursos, análises sobre obras de arte, análises sobre técnicas e assim por diante. Ou seja, eles eram e ainda são um banco de dados. Se eles são bancos de dados tendenciosos ou não, omissos ou não, isto fica a critério da visão de cada um. Eram bancos de dados referentes ao que era possível saber naquele momento sobre a humanidade, sobre o planeta, sobre diversas fases da história, sobre biologia, sobre geografia, etc.
Com o passar do tempo, as pessoas acessaram as mesmas informações e com muito mais detalhes e com maiores atualizações graças à internet.
Todavia, estes bancos de dados em forma de livros, enciclopédias, atlas e dicionários contam trechos sobre o coletivo, sobre uma criação coletiva. Ali não temos mais do que um amontoado ou apanhado de informações obtidas aqui e ali e que são acessíveis (muitas vezes com maiores detalhes) por quem viaja ou por quem pesquisa nos locais onde estão guardadas as informações (grandes bibliotecas e museus, por exemplo) ou por quem exerce uma dada profissão.
No entanto, estamos chegando a uma grande mudança!
Do ponto de vista astrológico, estamos chegando a um momento onde a informação passará por uma grande revolução. Na verdade, já está passando! Porém, eu diria que as pessoas só começarão a sentir isto com o passar do tempo.
A partir do momento que a sociedade humana fez da internet o seu ponto de contato com o mundo e fez com que surgisse a globalização, o volume de informações cresceu exponencialmente. É um fato! Hoje, nós podemos ver uma pessoa (ou mais de uma) andando numa rua de um país diferente do nosso enquanto ela (ou elas) está (estão) conversando conosco online. Nós estamos, simultaneamente, conectados a vários lugares ao mesmo tempo, ou seja, a noção de tempo e de espaço mudou. Percebam quantas informações nós recebemos numa única ligação por vídeo com várias pessoas conversando conosco ao mesmo tempo. Algumas estão num lugar que está amanhecendo, outras num lugar que está anoitecendo, outras num lugar com neve, outras num lugar com praias paradisíacas, outros num lugar de conflitos, outros num lugar onde ocorre um evento musical. Nós vemos construções, paisagens, públicos e costumes diferentes ao mesmo tempo.
Agora, pensemos no fato de que as conversas podem ser gravadas e jogadas para alguma rede social ou algum streaming da vida. Milhares de pessoas conseguem ter acesso àquelas informações. As pessoas talvez não notem, mas seus paradigmas, suas percepções, suas noções sobre a vida estão sendo remoldadas cada vez que elas acessam aqueles vídeos. A humanidade está passando por uma mudança gigantesca, quase sem notar. Há uma grande diferença entre eu ler uma enciclopédia ou um verbete sobre um país ou sobre um dado histórico e presenciar a cultura das pessoas, ver aqueles locais históricos, escutar uma pessoa narrando in loco, ver as cores dos lugares, escutar o som daqueles lugares, mas... não apenas de um lugar ou de um fato, mas de vários lugares e de vários fatos ao mesmo tempo. Repentinamente o cérebro dá muitas voltas e recebe uma quantidade enorme de conhecimento e de informação. Após tais experiências serem repetidas por incontáveis vezes, nós não somos mais a mesma pessoa, nós já não enxergamos o mundo como alguém que lia o mundo somente por meio dos livros.
Estou querendo dizer que, graças ao nível tecnológico que possuímos hoje, nós temos acesso a um número muito maior de informações e num espaço de tempo menor do que as pessoas tinham no passado. O que as pessoas fazem com esta atual enxurrada de informações, bem... depende daquilo que desejam fazer com suas vidas e isto não mudou muito em relação àqueles que não tinham o acesso tecnológico que temos hoje em dia.
Nós estamos passando, coletivamente, por modificações muito mais rápido do que na época das enciclopédias, dos dicionários e dos atlas. A noção do tempo e do espaço está totalmente diferente para quem vive os dias atuais. Rose Marie Muraro já falava que a noção de tempo e espaço, que existia até algum tempo atrás, seria drasticamente afetada pela globalização, principalmente quando as pessoas começassem a ver os acontecimentos no mesmo momento em que eles ocorriam em lugares distantes de onde elas moravam, mas não pela TV e sim por meio de seus aparelhos de comunicação. A tecnologia de comunicação tornou cada cidadão um agente ativo da informação, aparentemente livre das narrativas que eram, até algum tempo atrás, atreladas exclusivamente às mídias, ou seja, somente por meio das mídias tradicionais as pessoas podiam saber o que se passava na esquina de outro bairro ou cidade ou país, no entanto, agora, elas podem saber portando um simples celular e se tornarem um repórter da vida. Graças a isso, as mídias tradicionais tiveram que modificar suas formas de transmitir as notícias, porque perceberam que a narrativa dos cidadãos estava superando em velocidade e veracidade as narrativas antes transmitidas exclusivamente por elas.
Mas tudo isto está ficando no passado! Sim, outra página já está sendo virada e ela já faz parte do cotidiano das pessoas.
As enciclopédias e publicações afins eram fontes de informação sobre fatos, eventos, situações, histórias e narrativas generalizadas. Eram um banco de dados gigantesco, mas generalizado. Com o advento da tecnologia que facilitou e dinamizou a comunicação, nós tivemos acesso e criamos um banco de dados ainda maior, porém ainda generalizado, mas com pinceladas de pormenorização, ou seja, as pessoas passaram a ter acesso às rotinas dos demais, dos bairros, das cidades, dos países, algo que não era contado com tanta minúcia e detalhe num dicionário enciclopédico ou num verbete. Por meio de uma enciclopédia nós podemos saber que alguém fez uma revolução e que ela foi importante para mudar os rumos da história de um país, mas não sabemos dos pormenores, das pessoas anônimas, dos seus pensamentos, de suas características individuais, de suas maneiras de falar ou de se portar. Com o atual nível tecnológico é disponibilizada maior quantidade de informações sobre as diversas pessoas que participam de um evento, de uma revolução, de uma situação qualquer, mesmo que seja uma pessoa anônima. O vídeo grava detalhes, nuances, situações, fatos que normalmente não são considerados numa narrativa generalizada. Mesmo num nível familiar, é possível saber mais detalhes sobre um parente, sobre uma pessoa, sobre uma casa, sobre um bairro onde todos vivem. Antes nós sabíamos algo sobre a família porque alguém contava uma ou outra lembrança, mostrava uma ou outra foto e, se tivesse sorte e finanças maiores, um ou outro filme caseiro.
Agora, a tecnologia, com a aplicação dos algoritmos, não tem apenas acesso a fatos, a fotos, a vídeos ou a breves narrativas. Agora ela tem acesso a algo que era considerado muito mais íntimo e privativo. Nós estamos vendo a tecnologia que investiga quais são as preferências de uma pessoa: de que tipo de pessoa ela gosta, de que tipo de roupa ela gosta, de que tipo de vida que ela leva, que tipo de emoção ela possui para cada momento, que tipo de raciocínio e de opinião ela é capaz de emitir diante de um fato e/ou de uma foto, de onde ela compra e o quê ela compra. Não interessa tanto a conversa em si, mas o que se passa durante uma conversa gravada por uma pessoa em vídeo: qual roupa ela veste, que lugar ela frequenta, qual horário que ela gosta de sair ou de estar em casa e com quem, quantos animais ela possui, o que ela sente pelo outro, como ela se comporta diante do outro, com quem ela conversa, quais são as preocupações dela, quais são as tendências morais e éticas dela, quais são os lugares favoritos dela, o que ela acha do trabalho, a que horas ela acorda, o que ela faz em casa, o que ela faz na rua, qual o tipo de transporte ela usa, quais músicas ela gosta de ouvir, quais são os hobbies dela, quem são seus filhos, quem são seus parentes, o que as pessoas ao seu redor são para elas... e assim por diante. E não é só quando uma pessoa grava um vídeo, mas quando ela conversa com alguém por meio da voz ou da escrita usando algum tipo de inteligência artificial que está conectada à leitura por algoritmos.
Em outras palavras, o banco de dados agora é outro: cada um de nós! Nós sempre fomos um banco de dados ambulante, porque cada um de nós é uma pessoa única: nossos trejeitos, nossa voz, nosso andar, nossos pensamentos, nossas emoções, nossas preferências, tudo isto e muito mais são uma sopa de dados única, individual e, até agora, impossível de ser registrada com fidelidade e com uma tão profunda intimidade.
Estas informações serão as que mais importarão daqui para frente, porque a tecnologia está sendo direcionada para atender aos interesses de cada pessoa e ela quer se moldar àquilo que cada um é. Então, nós teremos acesso a uma cor, a uma textura, a um lugar, a uma situação que é sabida, de antemão, ter íntima relação com quem nós somos. Isto tem um lado bom e tem um lado ruim, como tudo na vida! O lado bom é que a tecnologia leva-nos para aquilo que nos interessa, sem maiores desvios, poupando tempo, dinheiro e energia. O lado ruim, bem o lado ruim depende de quem está tendo nas mãos as informações sobre nós, ou seja, com que intenção tais informações serão usadas no futuro e por quem!
A humanidade sempre foi uma ótima organizadora de bancos de dados sobre fatos externos, mas estes fatos externos podiam ser e foram e ainda são manipulados em acordo com as mais variadas desculpas. A cada momento são feitas revisões de fatos e de personagens e ninguém sabe ao certo até que ponto as narrativas são tão fidedignas quanto nos fazem crer que sejam, mas isto nunca impediu a humanidade de seguir adiante e manter um nível de liberdade interior.
Entretanto, a partir do momento que usamos as informações de cada pessoa e nos debruçamos sobre a biologia humana até o mais profundo ponto de intimidade, nós nos tornamos mais conscientes do banco de dados que nós somos e da responsabilidade que é conceder a alguém o poder de cuidar de todas as informações que estão sendo obtidas deste banco de dados. Será que estamos preparados para sermos éticos e morais o suficiente para não manipularmos aquilo que somos, principalmente quando sabemos que as informações que estão sendo coletadas são consideradas mercadorias de troca entre conglomerados e empresas as mais diversas?
Astrologicamente, nós estamos para viver um grande momento na área tecnológica, ou pelo menos é assim que talvez venha a ser o período que é marcado, a partir de 2025, pela presença de Plutão no signo de Aquário, Urano em Gêmeos, além de Netuno e Saturno em Áries. Espera-se que este seja um período muito dinâmico, que irá produzir grandes avanços tecnológicos e que afetará grandemente o pensamento coletivo. Inicialmente não será um período tranquilo, pois ele é um período de abertura para muitas e novas estruturas emergirem de uma só vez e há apego demais (o que é natural) a velhos padrões que já não conseguem atender às demandas atuais. Será um período revolucionário e de desenvolvimento mental muito grande, porém é preciso que a própria humanidade tenha mais consciência daquilo que tais avanços possam trazer daqui para frente, e terá que se basear no seu passado histórico para entender os limites que uma visão mercantilista deverá respeitar para que não coloquemos em risco a individualidade e a liberdade interior de cada ser humano. Isso tudo é importante para sabermos como nós viveremos e/ou como cuidaremos do planeta e/ou como lidaremos com as variáveis inerentes ao fato de sermos seres vivos que interagem com outros seres neste planeta, além de nos ajudar a entender que tipo de seres espirituais poderemos ser daqui para frente.
Não é ruim nós sabermos mais sobre nós mesmos, mas é ruim não sabermos o que fazer de bom com isto, meu caro viajante das estrelas.
Inté!!!
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