Sobre Marco Menezes

Trabalho, basicamente, com Tarot, Reiki, Numerologia e Astrologia. Sou formado em Farmácia pela UFRJ e lido com óleos essenciais, participei de workshops de florais com os principais co-criadores. Atualmente atendo somente online: via Telegram ou Skype. Este blog é apenas uma maneira de ver o mundo que nos cerca, com todas as nuances que for possível vê-lo. Sinta-se à vontade, mas respeite o espaço! ;)

11 abril 2011

Japão


JAPÃO
Por Monja Coen

Quando voltei ao Brasil, depois de residir doze anos no Japão,
me incumbi da difícil missão de transmitir o que mais me impressionou
do povo Japonês: kokoro.
Kokoro ou Shin significa coração-mente-essência.
Como educar pessoas a ter sensibilidade suficiente para sair de si
mesmas, de suas necessidades pessoais e se colocar à serviço e
disposição do grupo, das outras pessoas,
da natureza ilimitada?
Outra palavra é gaman: aguentar, suportar. Educação para ser capaz
de suportar dificuldades e superá-las.
Assim, os eventos de 11 de março, no Nordeste japonês, surpreenderam o mundo
de duas maneiras.
A primeira pela violência do tsunami e dos vários terremotos, bem como
dos perigos de radiação das usinas nucleares de Fukushima.
A segunda pela disciplina, ordem, dignidade, paciência, honra e
respeito de todas as vítimas.
Filas de pessoas passando baldes cheios e vazios, de uma piscina para
os banheiros.
Nos abrigos, a surpresa das repórteres norte americanas: ninguém
queria tirar vantagem sobre ninguém. Compartilhavam cobertas,
alimentos, dores, saudades, preocupações, massagens. Cada qual se
mantinha em sua área. As crianças não faziam algazarra, não corriam e
gritavam, mas se mantinham no espaço que a família havia reservado.
Não furaram as filas para assistência médica – quantas pessoas
necessitando de remédios perdidos-
mas esperaram sua vez também para receber água, usar o telefone,
receber atenção médica, alimentos, roupas e escalda pés singelos, com
pouquíssima água.
Compartilharam também do resfriado, da falta de água para higiene pessoal
e coletiva, da fome, da tristeza, da dor, das perdas de verduras,
leite, da morte.
Nos supermercados lotados e esvaziados de alimentos, não houve saques.
Houve a resignação da tragédia e o agradecimento pelo pouco que
recebiam. Ensinamento de Buda, hoje enraizado na cultura e chamado de
kansha no kokoro: coração de gratidão.
Sumimasen é outra palavra chave. Desculpe, sinto muito, com licença.
Por vezes me parecia que as pessoas pediam desculpas por viver.
Desculpe causar preocupação, desculpe incomodar, desculpe precisar
falar com você, ou tocar à sua porta. Desculpe pela minha dor, pelo
minhas lágrimas, pela minha passagem, pela preocupação
que estamos causando ao mundo. Sumimasem.
Quando temos humildade e respeito pensamos nos outros, nos seus
sentimentos, necessidades. Quando cuidamos da vida como um todo, somos
cuidadas e respeitadas.
O inverso não é verdadeiro: se pensar primeiro em mim e só cuidar de
mim, perderei.
Cada um de nós, cada uma de nós é o todo manifesto.
Acompanhando as transmissões na TV e na Internet pude pressentir a
atenção e cuidado com quem estaria assistindo: mostrar a realidade,
sem ofender, sem estarrecer, sem causar pânico. As vítimas
encontradas, vivas ou mortas eram gentilmente cobertas pelos grupos de
resgate e delicadamente transportadas – quer para as tendas do
exército, que serviam de hospital, quer para as ambulâncias,
helicópteros, barcos, que os levariam a hospitais.
Análise da situação por especialistas, informações incessantes a toda
população pelos oficiais do governo e a noção bem estabelecida de que
“somos um só povo e um só país”.
Telefonei várias vezes aos templos por onde passei e recebi
telefonemas. Diziam-me do exagero das notícias internacionais, da
confiança nas soluções que seriam encontradas
e todos me pediram que não cancelasse nossa viagem em Julho próximo.
Aprendemos com essa tragédia o que Buda ensinou há dois mil e quinhentos anos:
a vida é transitória, nada é seguro neste mundo, tudo pode ser destruído
em um instante e reconstruído novamente.
Reafirmando a Lei da Causalidade podemos perceber como tudo está
interligado e que nós humanos não somos e jamais seremos capazes de
salvar a Terra. O planeta tem seu próprio movimento e vida. Estamos
na superfície, na casquinha mais fina. Os movimentos das placas
tectônicas não tem a ver com sentimentos humanos, com divindades,
vinganças ou castigos. O que podemos fazer é cuidar da pequena camada
produtiva, da água, do solo e do ar que respiramos. E isso já é uma
tarefa e tanto.
Aprendemos com o povo japonês que a solidariedade leva à ordem, que a paciência
leva à tranquilidade e que o sofrimento compartilhado leva à reconstrução.
Esse exemplo de solidariedade, de bravura, dignidade, de humildade, de respeito
aos vivos e aos mortos ficará impresso em todos que acompanharam
os eventos que se seguiram a 11 de março.
Minhas preces, meus respeitos, minha ternura e minha imensa tristeza em
testemunhar tanto sofrimento e tanta dor de um povo que aprendi a amar
e respeitar.
Havia pessoas suas conhecidas na tragédia?, me perguntaram. E só posso
dizer : todas. Todas eram e são pessoas de meu conhecimento. Com
elas aprendi a orar, a ter fé, paciência, persistência. Aprendi a
respeitar meus ancestrais e a linhagem de Budas.
Mãos em prece (gassho)
Monja Coen

Meus agradecimentos a Antiqua por enviar o e-mail com esta mensagem.

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